Em 2017, trabalhei para uma organização de desenvolvimento internacional com sede em Bangladesh, com operações em nove países.
Nas Linhas de Frente: Reflexões de um Auditor sobre o Afeganistão
Blogs Kamal Uddin Gazi Jishan, CIA, CRMA set 15, 2021
Em 2017, trabalhei para uma organização de desenvolvimento internacional com sede em Bangladesh, com operações em nove países. Naquele ano, nosso chefe executivo de auditoria (CAE) designou-me para uma auditoria do escritório no Afeganistão. Com as notícias recentes da queda do governo do Afeganistão após a retirada das tropas dos EUA, reflito sobre minha aventura única como auditor interno durante aqueles dias.
Conforme meu voo descia sobre Cabul, pude ver a vegetação dispersa e a localização desordenada de casas e edifícios nas ruas e nas montanhas. Na chegada, minha equipe de auditoria interna foi recebida por um tempo bom e um clima agradável. Observamos pessoas ocupadas com as tarefas diárias e crianças brincando nas ruas.
Nossa reunião de abertura com o chefe do país nos deu uma visão geral dos desafios estratégicos, contexto operacional, projeto e capacidade de recursos humanos de nosso escritório no Afeganistão. Ele explicou que nossa organização estava entregando projetos de desenvolvimento de infraestrutura, educação e serviços de saúde usando uma abordagem baseada na comunidade em muitas províncias do Afeganistão. A equipe descreveu nossos objetivos de trabalho de auditoria para o chefe do país e começou o trabalho de campo.
Desde o início, ficou claro que a segurança era uma preocupação real para os expatriados que trabalhavam no país. Estávamos impedidos de nos movimentar livremente fora de nossas instalações de acomodação a qualquer hora do dia ou da noite. Por exemplo, esperavam que nos deslocássemos entre nossas acomodações e o escritório usando um veículo da empresa, embora os dois locais estivessem no mesmo quarteirão e separados por apenas 10 a 12 prédios.
A regra de ouro era não visitar locais depois de certa hora do dia e não se locomover sem um guia local. Nossos colegas nos contaram a história de um engenheiro expatriado que não atendeu a esses avisos e foi sequestrado durante uma visita a um local do projeto. Após meses sob custódia, o engenheiro foi devolvido em segurança e enviado para sua família.
Restrita a fazer visitas ao local, nossa equipe usou análise de dados para examinar as transações financeiras dos gastos do escritório com projetos. Ao analisar as ajudas de custos de mobilidade dos funcionários nos escritórios de campo, identificamos discrepâncias, como uma variação de limites mês a mês e um funcionário que recebeu diversos excedentes à ajuda de custo no mesmo mês. A análise textual dos signatários também sinalizou indicações de transações não autorizadas.
Os auditores que trabalham no Afeganistão devem compreender que as normas locais, comportamentos e visões culturais são diferentes de outras partes do mundo. A equipe de aquisição compartilhou sua experiência de interação com empreiteiros locais para aprimorar o uso da documentação apropriada. Esses contratados tendiam a achar que a documentação das transações por escrito era desnecessária, frisando que comprometimentos verbais são fortes, fiéis e conclusivos. No entanto, com algum treinamento e convencimento, os empreiteiros aprenderam a usar um conjunto padrão de documentação relacionada a propostas, licitações, etc.
Contratar subcontratados terceiros locais é o método comum para realizar trabalhos, devido às restrições para expatriados em certas partes do país. O trabalho dos subcontratados foi documentado usando fotografias como evidências da conclusão de escolas, infraestrutura e estradas. Esse método foi especialmente útil para confirmar que o trabalho foi concluído, porque os auditores puderam verificar a fotografia real ao lado de um certificado de conclusão anexado aos documentos do projeto.
Perto do fim do nosso contrato de auditoria, facilitei uma sessão de treinamento de um dia para os auditores internos do escritório no país, o que permitiu interação e aprendizado mais amplos, que tiveram impacto positivo entre a equipe.
Quatro anos depois, as condições atuais no Afeganistão aumentam ainda mais a necessidade de que organizações públicas e privadas mantenham um local de trabalho seguro e garantam a continuidade dos negócios. Na minha opinião, os auditores internos no Afeganistão devem se concentrar em:
- Promover o planejamento da continuidade de negócios para a organização. Os auditores internos devem desenvolver as habilidades necessárias ou envolver especialistas para orientar e aconselhar os líderes da organização sobre a necessidade de treinar funcionários em todos os níveis, para garantir a continuidade dos negócios.
- Garantir a segurança e proteção da equipe de auditoria interna e de todos os funcionários. Os CAEs devem fornecer instruções claras sobre como lidar com questões de segurança. Por exemplo, os auditores devem limitar as visitas ao local, usar guias locais e receber atualizações do departamento de relações públicas sobre as notícias atuais.
- Usar análises de dados e técnicas de auditoria remota. É hora de os auditores internos aprenderem a usar aplicativos analíticos modernos para atingir os objetivos de auditoria, já que as atividades de negócios são vulneráveis a fraudes e falhas de controle interno.
- Desenvolver políticas e procedimentos robustos para a organização. Os auditores internos devem se tornar conselheiros confiáveis e auxiliar os líderes de negócios no estabelecimento de procedimentos organizacionais abrangentes e documentados.
- Contratar e treinar auditores internos locais. Ter auditores internos locais na equipe beneficiará o departamento para cumprir com certos aspectos de trabalhos de avaliação ou assessoria. Os jovens são talentosos e estão prontos para assumir papéis desafiadores.
Durante minha estada no Afeganistão, minha filha Yusairah, de 3 anos, costumava me ligar e perguntar com sua voz terna: "quando você vai voltar do Abbanistão?" Minha equipe voltou do "Abbanistão" a salvo para casa e as memórias viverão, por muito tempo, frescas em meu coração. Especificamente, o kabab e o naan – carne e pão achatado – serão difíceis de esquecer. Lembro-me das conversas com as pessoas locais, que eram tão bondosas. O clima era tão agradável e toda a cidade de Cabul parecia enriquecida pela beleza natural das montanhas e vales.
No momento, o povo do Afeganistão está deslocado, devastado e enfrentando a insegurança. Todos nós devemos orar e apoiar o povo do Afeganistão em prol da manutenção da paz, segurança e prosperidade para as gerações futuras.