On The Frontlines: Disrupção Geopolítica e Risco
Blogs David O'Regan, CIA, LittD mai 11, 2022
As considerações geopolíticas sempre estiverem conosco. Mas duas tendências globais incompatíveis exacerbaram os riscos nos últimos anos – elas se chocam e colidem como placas tectônicas ativas na litosfera do planeta, gerando desafios que vão desde tensões comerciais a guerra. Uma destas tendências, o globalismo, promove o movimento internacional do comércio, capital, manufatura, serviços, câmbio e pessoas. Os defensores do globalismo apontam para o seu escopo de oportunidades, em nível individual e institucional, e sua facilitação de corte de custos.
A outra tendência é o nacionalismo. O globalismo é combatido pelos nacionalistas, que visam (ou alegam) proteger as comunidades e culturas locais. Os globalistas acusam os nacionalistas de nativismo e preconceito cultural. Os nacionalistas acusam os globalistas de explorar mão de obra estrangeira, bem como enfraquecer internamente a coesão social e cultural, ao sacrificar indivíduos e comunidades em uma constante busca por custos mais baixos.
As paixões políticas decorrentes desse conflito de visões são poderosas e, às vezes, extremas. Há duas razões principais para isso. Primeiro, as duas visões parecem ser irreconciliáveis. Segundo, as apostas são altas, econômica e socialmente. A acrimônia sem precedentes em torno da Brexit (a independência do Reino Unido em relação à União Europeia), o movimento Trump nos Estados Unidos e o movimento Le Pen na França são instâncias locais do choque mundial entre a globalização e o nacionalismo.
Confrontos Políticos Criam Mais Disrupção
Os riscos decorrentes desse choque de filosofia política intensificam os riscos já inerentes à geopolítica. No extremo do espectro, é claro que há a catástrofe da guerra. No entanto, riscos menores também podem trazer consequências calamitosas para as organizações. Podemos utilizar o crime cibernético como exemplo. Os ciberataques são uma característica da guerra e terrorismo modernos, mas também podem derivar de rivalidades econômicas e políticas. Na véspera do referendo Brexit, em 2016, o site de registro de eleitores do governo britânico sofreu um ciberataque que derrubou o site; o período de registro teve que ser prorrogado por um dia.
O crime cibernético tornou-se quase rotineiro, na proporção em que devemos nos precaver contra a dessensibilização dos riscos. Ataques de phishing, por exemplo, que usam mensagens e e-mails enganosos para adquirir informações confidenciais, são tão comuns que corremos o risco de nos tornar indiferentes a eles. Mas podem ter consequências devastadoras.
O deslocamento econômico e logístico decorrente de riscos geopolíticos inclui a disrupção à cadeia de suprimentos, inflação, flutuações na taxa de câmbio, tarifas e outras medidas protecionistas e sanções contra indivíduos, organizações e países. Essas medidas podem fechar mercados no lado da oferta e no ciclo de receita, o que pode ameaçar a sobrevivência de uma organização.
A Reputação da Organização Está em Jogo
Mais amplamente, o discurso geopolítico pode aumentar os riscos à reputação. Por exemplo, a divulgação dos excessos do capitalismo global na forma de trabalho infantil e outras práticas de exploração de trabalho em manufatura terceirizada pode danificar a reputação das organizações. Vimos como a visibilidade dada a crianças pobres no sul da Ásia costurando bolas de futebol à mão em condições tenebrosas envergonhou os grandes fabricantes de roupas esportivas de forma a levá-los a renovar a integridade de suas cadeias de suprimentos.
O Desafio para os Auditores Internos
Conforme os auditores internos abordam os riscos geopolíticos por meio da realização de tarefas de auditoria e sua capacidade consultiva, há três considerações importantes para se ter em mente. Elas incluem (1) a inter-relação entre riscos, (2) a velocidade em que cada risco e seus impactos podem se consolidar, (3) e o surgimento de novas áreas de risco.
(1) Poucos riscos geopolíticos são independentes, e é difícil obter uma visão holística de oportunidades e ameaças interconectadas. Por exemplo, uma organização que viola sanções involuntariamente pode sofrer penalizações financeiras punitivas, e os danos à sua reputação podem levar à perda de clientes e fornecedores. Outro exemplo: a disrupção à cadeia de suprimentos pode levar a pressões inflacionárias, visto que a disponibilidade oportuna de matérias-primas fica aquém da demanda, e a inflação, por sua vez, pode levar ao aumento das taxas dos empréstimos bancários, tornando a dívida mais cara de amortizar. Isso pode ser catastrófico para corporações altamente alavancadas.
(2) A rapidez do “movimento” do risco é um grande desafio nas organizações. Alguns riscos podem ser avaliados com calma, em horizontes de longo prazo. Outros riscos mais voláteis podem repentinamente sobrecarregar uma organização desavisada. Práticas flexíveis de mitigação de riscos são essenciais para confrontar esses perigos.
(3) Novos riscos geopolíticos nas áreas de ética, prestação de contas, sustentabilidade e questões ambientais, e (no sentido mais amplo) dinâmicas de poder e questões de equidade estão surgindo. Alguns desses tópicos são “informais”, no sentido de desafiar a quantificação pura e de envolver variáveis elusivas.
Auditores internos precisarão estar preparados para falar, para evitar ser pegos com a guarda baixa quanto a essas considerações. Muito provavelmente, a disrupção geopolítica tende a ficar mais complexa e desafiadora. Embora tenha se tornado algo clichê, o acrônimo VUCA (abreviação de volatility, uncertainty, complexity e ambiguity – volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) se encaixa perfeitamente aqui. Os auditores internos do amanhã precisarão ser bem versados nos conceitos do VUCA.